Correndo para Vida – Por Patricia Fonseca

Lembro de cada dia e de cada segundo da espera. Lembro do que pensava e do sentia. Lembro dos dias que pareciam infinitos.

Muitas vezes para escapar um pouco daquilo eu me transportava. Ia para onde queria estar, viajava mentalmente. Eu mesma ia lá e me resgatava de algum modo. Fechava os olhos e sentia. Sentia a consistência da areia enquanto meu tênis caminhava por ela atravessando a praia em direção ao mar. Olhava o mar. Sorria. Pegava uma perna, alongava. Pegava a outra alongava. Estava sempre de legging preta de ginástica e uma blusinha. A vida inteira achei lindo roupa de ginástica mas não tinha porque comprar, não podia fazer exercícios mesmo. rs Nas minhas visualizações assim eu estava. E então, olhando a montanha que limitava a praia à direita, eu partia. E corria. Eu sentia a sensação de correr. Sentia minhas pernas, uma após a outra, sentia o vento, sentia a energia, o vigor. Ao meu lado corria meu marido. Íamos correndo juntos pela praia. Saudáveis. Felizes. Felizes para sempre. E era assim que via se afastando a imagem de eu mesma com ele correndo na praia. E aquilo me confortava e me dava forças, entre muitas outras imagens que eu cultivava.

Esse era meu sonho de consumo. Nada mais. Ter saúde. Poder viver. Poder correr. Poder sentir meu corpo me levando onde eu quisesse. Ser meu próprio direito de ir e vir.

Eu confesso que talvez nem eu imaginava que o transplante de coração me daria tanto. Ao todo foram 30 anos vivendo com insuficiência cardíaca. Eu queria apenas continuar viva rs. Sair daquela cama de uti e voltar para casa.

E que forte, que incrível, que intenso é hoje eu ser aquela imagem de carne e osso! É eu pegar minha perna e alongar. É vestir minha legging colorida e partir em direção ao vento! Meu Deus! Se cada segundo foi eterno da espera, cada segundo agora é completo, perfeito em si! Várias vezes me pego dentro das minhas imagens. Como ontem, quando eu e ele fomos correr no parque juntos. Alongamos, e partimos. Minhas pernas que antes não me aguentavam em pé saltavam e as árvores que nos rodeavam pareciam entender a beleza daquilo.

A plenitude de sentir-se vivo. A emoção do suspiro que diz “deu certo”, “aconteceu”, “é realidade”.

A vida é surpreendente e incrível! Nunca sabemos o que nos espera ali na frente, e a nós compete dar o nosso melhor a cada passo!

Para aqueles que seguem esperando cultivem seus sonhos, seus desejos e suas vontades! Eles vão se realizar!

E para aqueles que um dia me salvaram com o SIM da doação meu eterno amor e gratidão! Que a vida abençoe meu doador e sua família infinitamente!!!

Grande beijo a todos!

Patricia Fonseca

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ps- ele não está no vídeo porque ele filmou rs ; )