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Quando o coração e o corpo estão nos seus limites – Por Fisioterapeuta Regina Ishikawa

 

Quando o coração e o corpo estão nos seus limites – a reabilitação pré-transplante e o retorno da esperança.

Trabalhando na Unidade Coronária do HCor, estive em contato com vários pacientes cujos corações estavam nos seus limites. Felizmente alguns deles se encontravam à espera de um novo, tão nobre órgão, que era a luz no fim do túnel para o retorno a (ou início de) uma vida sem limitações.

O que pude constatar neste período de muito sofrimento destes pacientes foi o nascer da esperança em seus próprios corpos, e em suas próprias vidas. Como fisioterapeuta, uma vez que este paciente no limite se encontra compensado com medicações, meu dever é levantá-los.

Sim, a fisioterapia levanta. Levanta o paciente que está tão cansado que o simples fato de estender os braços para pegar um copo de água é uma tarefa exaustiva. Cito o exemplo da Patrícia: quando internou pela última vez antes do transplante, passou alguns dias de cama devido sucessivas arritmias (o coração, além de fraco, batia em ritmo “errado”). A primeira vez que sentou, cansou. A primeira vez que levantou, cansou mais ainda. Quando deu os primeiros passos, meu Deus, pedia para sentar. Era uma jovem, tão jovem, impossibilitada de fazer o que para a maioria é normal e corriqueiro.

Explicando de forma simples, um dos principais efeitos da fisioterapia neste momento é abrir e dilatar as artérias que nutrem os músculos que se encontram em movimento. Assim, o coração cansado não precisa fazer tanta força para bater. E aos poucos o corpo que volta a se movimentar, volta a ganhar força também, sem exigir tanto de sua principal bomba.

Então, num dia foi o sentar, no outro, o levantar, no outro, dar alguns passos. Dia após dia, precisávamos lembrar aquele corpo frágil de que ele ainda era muito capaz. Começamos os exercícios com pesinhos de 250g, depois 0,5kg, gradativamente aumentando conforme seus músculos ganhavam força. Dia após dia caminhando mais um metro. Dia após dia fortalecendo o diafragma, principal músculo da respiração. Até ele havia enfraquecido. Precisávamos correr contra o tempo e fazer a Patrícia ganhar força, o transplante cardíaco é uma cirurgia grande, complexa, iria exigir demais dela!

Após um pouco mais de um mês, de pouquinho em pouquinho, a Patrícia estava caminhando aproximadamente 600m pelos corredores, levantando 2,0 Kg de peso (sim, isso é muito para um coração no seu limite!), cantando! Ficou forte o suficiente para receber seu novo coração.

No mesmo período tivemos um paciente que, como a Patrícia, aguardava seu novo coração. Ele também, no início, cansava só de ficar em pé. Um dia me disse: “Ah, Regina, tudo o que eu queria era poder sair daqui e levar minha esposa ao teatro.” Falei: “Então vamos trabalhar para isso!”. Ele recuperou sua força e capacidades, e seu coração compensou de forma tal que o médico permitiu que esperasse o novo órgão em casa. E neste período pode levar a esposa ao teatro, brincar com seu neto, visitar a netinha recém-nascida no hospital. Pode voltar a viver!

A fisioterapia no pré-transplante não ajuda apenas a preparar o corpo para receber o novo órgão. Ajuda a dar capacidade para as atividades mais básicas, como levantar de uma cama, ir ao banheiro, conversar sem cansar (tanto), cantar, para quem gosta de cantar, dar boas risadas. A fisioterapia pré-transplante ajuda a lembrar que aquele corpo que está no seu limite pode ir mais um pouquinho, e mais um pouquinho, e trazer qualidade de vida e esperança para aquele que espera.

Regina L. Y. Ishikawa Abe
Fisioterapeuta especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória

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2 comentários em “Quando o coração e o corpo estão nos seus limites – Por Fisioterapeuta Regina Ishikawa”

  1. Tânia Regina da Costa

    Bom Dia , Minha Mãe precisa de fisioterapia para o coração e gostaria de uma ajuda de todos. Pois está no hospital do coração em laranjeiras e mandaram aguardar. Coração não espera.Onde posso levar minha mãe, se for o caso até pago.

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