Tenho uma longa história de gratidão e alguns deslizes, e entre hipers e hipos glicemias e diversos problemas que enfrentei devido a essa doença crônica, me sinto responsável por passar a minha visão, um pouco de minha história e algumas orientações, comemorando a data de terça feira, 14 de Novembro, Dia Mundial do Diabetes, e o nosso Novembro Azul.
Estive diabético durante 17 anos e posso dizer que foram anos de pouco conhecimento do problema, mas muito aprendizado! Parece contraditório, mas a vida ensina, não é mesmo? E assim eu aprendi a lidar com a diabetes, ser uma pessoa mais saudável mesmo com tantas vezes que abusei da sorte e pude tirar disso valiosas lições.
Porquê, sou diabético, mas, não estou diabético? Sabemos que o diabetes mal controlado leva a diversos problemas de saúde. Sempre tive consciência disso, mas nunca imaginei que eles chegariam tão rápido até a minha vida. E se servir de exemplo a você, jovem diabético, segue um resumo de minha história…
Descobri o diabetes com 9 anos de idade. Desenvolvida, tipo 1, nasci obeso, com quase 4kg, não é um caso hereditário como muitos questionam. Estava me sentindo muito mal com náuseas seguidas de vômitos, certa lerdeza e dificuldade para caminhar. No posto de saúde, uma das enfermeiras que colheu o primeiro exame cheirou a minha boca logo após a coleta daquele sangue que chegava a uma coloração muito escura, ela sentiu um cheiro forte e doce de maça, lembro até hoje daquele momento assustador, ela olha para a minha mãe e diz “seu filho está diabético”. Esperamos sair o resultado e também não me esqueço deste número, 577mg de glicemia. A partir daquele momento a minha rotina de vida e familiar seria outra…
Mas vencemos e nos adaptamos e como qualquer criança, adolescente, adulto, tive uma rotina de estudante e profissional normal! Neste período entre os meus 15 e 16 anos, vim a desenvolver uma polineuropatia, onde sentia fortes dores nos pés e convivi durante anos com a mesma, pois estava com os níveis de glicose alta! Trabalhava demais, era um adolescente sem informações, sem dieta, sem sono, sem atividade física. Ia as consultas ao endocrinologista que sempre me dizia estar tudo bem e aparecia lá a cada 6 meses no ano. Tratei este problema com o neurologista.
Por volta de 2009 estava na graduação, e me sentia cansado e com as glicemias sempre altas, até que resolvi procurar por outro médico, e achei a Dra. Fátima Claro Cristovão, endocrinologista que representou no meu tratamento com diabetes, nutrição e os esportes, onde era verificado cada glicemia antes e após a atividade física. Um bom profissional, planejamento, orientação e controle fazem toda a diferença. Aprendi isso com ela.
Em uma consulta de rotina em 2014, foi observado que meus níveis de creatinina e uréia estavam um tanto quanto altos, e passei a me consultar com nefrologistas. Estava em fase pré dialítica já. Foi identificado que estava tendo falência renal. Nesta fase, a insulina colocada no corpo passa pelos rins de forma que o efeito que deveria ser feito em 6 horas era feito em minutos, e em pouco tempo estava tendo hipoglicemias severas que aconteciam cerca de 3 vezes na semana, e dessa vez entravam os doces, chocolates e na rotina do diabético para evitar as perdas de consciência causadas nos níveis baixos de glicose ou hipoglicemias! Também percebi certa dificuldade e aumento do meu grau, fui ao oftalmologista, e apareceu a retinopatia diabética.
Em janeiro de 2015, depois de tantos problemas decorrentes do diabetes, tive de dar uma pausa em alguns planos e metas para me dedicar a sessões de hemodiálise 3 vezes por semana. Estava decidido e nunca me entreguei! Aceitei que aquele não seria o fim da minha história, mas o inicio de novas conquistas, começando pela busca de uma nova
chance de fazer diferente! Procurei o grupo Hepato. A equipe de transplantes que em fevereiro de 2016, depois de um ano e um mês, realizou o meu transplante duplo, onde necessitava de um rim para me tirar da hemodiálise e um pâncreas para controlar o diabetes e me deixar tranqüilo com relação a tudo o que vinha ocorrendo. Por este motivo, sou diabético, mas, não estou diabético, graças ao transplante de pâncreas que me tirou do status de diabético crônico e com severos problemas decorrentes.
Fui rebelde e inconseqüente por alguns destes anos. Posso dizer que em 17 anos diabético, fiz o controle corretamente nos últimos 9 anos, e aprendi demais com tudo isso, com gratidão a nova oportunidade de viver e passar essa mensagem a todos! Não é somente idosos que tem problemas de saúde e dificuldades com diabetes! Nem
todo o jovem ou criança é 100% cheio de energia 24hs! E para você jovem, o diabetes pode te cobrar cedo ou tarde, mas você tem a oportunidade de aprender e viver bem e saudavelmente como eu faço hoje, mesmo após um transplante duplo de pâncreas e rim, você não precisa passar pelo o que passei! Ser diabético é ter uma vida saudável e regrada no meio de muitas tentações e hábitos negativos do mundo. Não é nada legal abusar de um problema como este!
Primeiro! Desde já deixo claro que a diabetes não é e nunca será o fim do mundo! Não é porque o seu tio, avó, pai sofreu com isso e com aquilo, e perdeu um órgão, um membro, ficou cego ou teve qualquer outro problema decorrente da doença que isso irá acontecer com o próximo que você conhecer diabético. Segundo! Hoje em 2017, ainda NÃO EXISTE dieta milagrosa e nem a cura para o diabetes! A sua dieta nem a dos seus familiares serve para o próximo diabético que você conhecer. Oriente sempre procurar bons médicos, endocrinologistas e nutricionistas para o acompanhamento e controle perfeito e individual de cada diabético.
Com hábitos saudáveis, alimentação correta, e quando falo sobre alimentação, não significa que você deva deixar apenas de comer doces, mas entender que tudo o que ingerimos é fonte de carboidratos e logo qualquer dieta indicada, deve haver controle e cuidado entre índices baixos e altos de glicemia para o bom metabolismo e funcionamento de funções básicas do corpo. Como uma caminhada, ou até a leitura de um livro. E cuide do seu colesterol também! Tome cuidado com o “churras” de final de semana! Esses finais de semana estragam uma semana inteira da sua rotina.
O que me salvou e me mantém bem e saudável, com certeza são os esportes. E se eu escrevesse um livro sobre a minha história, o esporte mereceria um longo capítulo especial para falar a diferença que ele fez na minha vida e faz na vida de qualquer diabético! Se não fossem pelos esportes, com certeza eu não estaria mais aqui contanto essa história. Com bons hábitos, regularidade nas atividades físicas, alimentação planejada e saudável, evitando o ganho de peso e mantendo o check-up médico e controle glicêmico, a vida será melhor que a de qualquer pessoa que diz não ter nenhum problema de saúde e você fará parte de um estilo de vida orientado e adequado, não só a você diabético, mas a qualquer pessoa no mundo.
Se cuide! Os números de diabéticos são altos e vem explodindo no mundo e se tornando uma das doenças que mais levam ao óbito, e nada mais nada menos do que pela ausência de hábitos saudáveis.
Saúde e Vida a Todos!
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Rayrond Guatura – Transplantado Duplo (Pâncreas e Rim)