Venho de uma família de professores na qual a educação foi muito valorizada e sempre esteve presente em minha vida. Sou professora há mais de 30 anos e digo com muito orgulho que amo o que faço. Sei que existem várias profissões importantes, mas tenho certeza de que nenhuma é tão importante quanto a do professor. Afinal, toda profissão necessita da figura do professor para a sua formação. Também acredito que nenhuma profissão afeta de forma tão direta as pessoas que por suas mãos passam. Por isso, precisamos ter consciência de que tudo o que fazemos deixa marcas e podem mudar a vida das pessoas. E qual marca estamos deixando?
Em 2015, meu esposo recebeu a notícia de que precisaria passar por um transplante de fígado. Assim como a maioria das pessoas, eu nunca havia sequer pensado nesse assunto. Mas vivenciando as batalhas do dia a dia das pessoas que necessitam de um órgão, senti que precisava compartilhar essa realidade com todos que estivessem ao meu alcance e por isso precisava fazer alguma coisa. Porém, por onde começar? De que forma? Fiquei meses com isso na cabeça e com uma forte angústia no coração até o momento em que tive a ideia de trabalhar esse tema com meus alunos.
Atualmente trabalho o projeto Doação de Órgãos com os alunos do quinto ano do colégio Gardner em São José, Santa Catarina. O principal objetivo desse projeto é, por meio do apelo das crianças, conscientizar as famílias e a sociedade sobre a necessidade da doação de órgãos, sensibilizando e mobilizando a todos a refletirem sobre essa causa tão nobre. Após muitas discussões realizadas em sala de aula, os alunos apropriaram-se dos diversos assuntos relacionados à doação e disponibilizaram-se junto com suas famílias a divulgarem e expandirem nossa campanha. Sigo firme com o projeto, pois vejo no exemplo do meu marido uma prova que o transplante é um assunto muito sério e necessário para que a vida continue.
Com minha experiência durante esses cinco anos trabalhando com esse projeto, posso afirmar que se quisermos conscientizar as pessoas sobre a importância de ser um doador de órgãos precisamos iniciar com as crianças. Elas são capazes de acolher o assunto sem preconceito e assim mobilizarem suas famílias e demais pessoas de uma forma natural e muito leve. Mesmo sendo um assunto rodeado de tabus e preconceitos, se bem trabalhado com as crianças pode mudar inclusive as estatísticas das filas de espera de um transplante. Ao apropriarem-se do tema da doação de órgãos, as crianças entendem a importância real do papel do doador e mostram-se dispostas a fazerem com que todos ao seu redor encarem o assunto da mesma forma, pois como eles mesmos afirmam: “Como alguém pode dizer não para a vida?”. Percebemos que os depoimentos das crianças são realmente emocionantes e tocam de forma especial quem as ouvem falar
Queridos professores, posso afirmar que o segredo não está somente na maneira de apresentar esse assunto para as crianças, mas também em como e quem apresenta. Eu defendo e apoio a ideia de que a doação de órgãos necessita ser trabalhado nas escolas. A cada ano que passa, estou mais convicta de que não poderia ter escolhido pessoas mais capazes de absorverem e disseminarem esse tema. Sinto-me emocionada cada vez que observo as crianças falando com tanta propriedade.
O fato é que precisamos de mais visibilidade acerca da DOAÇÃO DE ÓRGÃOS. É necessário que as escolas aceitem cada vez mais projetos e disciplinas que evolvam esse tema, e que os professores possam conscientizar as crianças desde cedo. Nós professores podemos e devemos transmitir nosso conhecimento através da conversação e assim fazer com que os alunos conheçam e reflitam sobre esse assunto.
Eu desejo um FELIZ DIA DOS PROFESSORES a todos os meus colegas de trabalho e espero que sigamos sempre acreditando na mudança que a educação é capaz de fazer na vida de cada indivíduo.