O ano era 2014, eu tinha 19 anos e recebi o diagnóstico de doença renal crônica. Precisaria entrar em hemodiálise. Foram inúmeras mudanças físicas e entre elas a temida: a fístula arteriovenosa.
No início confesso que rejeitava a ideia de tê-la. Pensar que eu ficaria com veias calibrosas e com o braço “deformado” (como eu ouvia as pessoas chamarem) me fazia gelar por dentro. O inevitável chegou e eu tive que fazê-la. E foi a melhor escolha que eu pude fazer pela minha saúde!!! Logo que a confeccionei, a dor das punções era insuportável e por diversas vezes, no meu íntimo, desejei que ela parasse de funcionar. Ainda bem que isso não aconteceu!!
Não demorou muito para eu entender a importância e amar esse braço mais do que tudo. Durante cinco anos ele foi o meu bem mais precioso. Era a minha linha de vida. Era por causa dele e da máquina que eu podia comer. Era por causa dele que eu podia tomar um banho de chuveiro como qualquer outra pessoa sem ter medo de pegar uma infecção. Era por causa dele que eu estava viva.
E aqueles olhares de susto e, infelizmente, até́ de nojo, que eu antes temia, já não me importavam ante o milagre que esse braço, essas veias e essa artéria me faziam experimentar 3 vezes na semana. EU TINHA ORGULHO DE ANDAR POR AÍ EXIBINDO MINHA FÍSTULA.
Então eu transplantei, durante a cirurgia tive uma queda de pressão e a minha cobrinha (como eu e meus amigos de hemodiálise a chamávamos porque a bicha era forte e sorrateira) resolveu trombosar e parar parcialmente.
Hoje eu estou internada para desligar ela. Hoje eu me despeço da minha companheira de luta. Hoje eu me despeço do que foi a minha linha de vida por 5 anos. Hoje um ciclo muito importante se fecha.
E agora, olhando para esse bracinho miúdo, de veias cheias e repleto de cicatrizes, o amor transborda pelos meus olhos porque todas as marcas contidas nele são marcas de batalhas vencidas.
Nossa eu estou com braco já deformando é horrível saber que ele que ajuda a viver mas choro muito só de pensar que esta deformando e tenho que esconder de todos
Olá Magda, entendemos seu sentimento, mas tente focar na gratidão por existir um tratamento que te permite viver. Algumas coisas na vida nós realmente não escolhemos, mas sempre podemos escolher como lidar com elas. Saiba que suas marcas são também sinais de força, garra e coragem e que se você as olhar com carinho, todos ao redor as olharão com esse mesmo olhar de carinho 😉