Que bom seria se pudéssemos transplantar o olhar das pessoas para que enxergassem outras realidades que não as suas. E não estou falando em transplante de córneas, mas metaforicamente me refiro a transplantar o olhar no sentido de oportunizar outras pessoas a verem de perto como é a rotina de um paciente à espera por um órgão, por exemplo. Ou como são as angústias e as incansáveis lutas de um familiar que acompanha todo esse processo. E, ainda, através do olhar de um transplantado, vivenciar as maravilhas que uma doação é capaz de fazer na sua vida!
Tenho certeza que todos que passassem por essa experiência não hesitariam em declararem-se doadores!
Segundo o ensinamento budista, se as pessoas entendessem o verdadeiro benefício da doação não guardariam uma única refeição apenas para si mesmos, tentariam compartilhar todas as refeições. Mas por não enxergarmos o processo e os resultados, muitas vezes suprimos nossos impulsos generosos. É preciso enxergar com os olhos do outro – significado básico da empatia.
Embora não tenhamos o poder de transplantar esse olhar, temos o poder de ouvir e contar histórias. Por meio de um relato, é possível nos sentirmos mais próximos daquela realidade – sob aquela visão. A importância de compartilhar esses relatos é, sem dúvidas, fonte propulsora no incentivo a uma cultura mais doadora!
Luma Eccel é Transplantada Renal há 4 anos, Advogada, mestre em Direito e professora universitária de Direito Penal.