Depois do transplante levou um tempo para que eu voltasse a me reconhecer. Eu estava muito agradecida e feliz por estar viva, mas eu me olhava e via aquela cicatriz na barriga, o cabelo bem curtinho quase careca (pois meu cabelo havia caído) e não conseguia me achar bonita por mais que eu tentasse.
Foi então que conversando com uma amiga tive a ideia de brindar a nova vida e o novo corpo com um ensaio fotográfico. Decidi fazer o ensaio e pedi para que o fotógrafo não apagasse minhas marcas, pois foram elas que me fizeram perceber que a vida nos deixa marcas de qualquer jeito e que era essa a marca que eu tinha e precisava me orgulhar dela. Ver o quanto meu corpo está lindo porque é esse corpo que é o mais saudável que eu posso ter. É nesse corpo que reconheço minhas batalhas e minhas vitórias, por isso digo a todas as mulheres, principalmente as transplantadas: Olhem-se mais no espelho e orgulhem-se, não só de suas marcas, mas de sua história de vida.
Depois de tudo que eu passei, é um trabalho diário achar-se bonita, mas é nesse momento que me olho no espelho, vejo o ensaio que fiz, abro a janela do quarto, olho minha barriga e dou um largo sorriso, porque depois da cirurgia, do ensaio e da nova oportunidade da nova vida nunca mais fui a mesma. Hoje me olho com ternura e percebo que a vida vai além de uma cicatriz. A vida deixa marcas como as que eu tenho profundas na alma e como aquelas que deixo em todos aqueles que através de nossas histórias enxergam a esperança de uma nova vida.
Às mulheres transplantadas digo apenas uma coisa: Vocês são lindas e suas marcas são o que vocês têm de mais lindo. Significam que vocês nunca desistiram de algo que é o bem mais precioso que alguém pode ter: a Vida!
Ana Paula é Jornalista e Pedagoga e é transplantada de fígado há 1 ano.