1) Quais órgãos e Tecidos Podem ser doados?
O transplante pode ocorrer tanto para órgãos quanto tecidos. Os órgãos que podem ser doados são: coração, pulmão, fígado, pâncreas, rim, intestino, útero. Quanto aos tecidos se destacam a medula óssea, pele, osso, válvulas cardíacas e córnea. Partes do corpo também podem ser doadas, como ocorrem nos transplantes de face.
2) Quem pode ser doador?
Para ser um doador basta deixar claro para a família o desejo de doar os órgãos após a morte, uma vez que a família precisa autorizar a doação após confirmada a Morte Encefálica. No Brasil, a doação de órgão só será feia após a autorização dos familiares.
No caso da doação em vida, precisa ser uma pessoa saudável, estar em condições de doar o órgão ou tecido sem comprometer a sua própria saúde e aptidões vitais. O candidato a doador deverá realizar uma avaliação médica para afastar a possibilidade de doenças que comprometam sua saúde ou do receptor. Além disso, deve ser uma pessoa juridicamente capaz, pois a doação só pode ser feita com autorização judicial, principalmente quando não há vínculo familiar próximo entre as partes (pais, irmão, filhos).
3) Quais são os tipos de doadores que existem?
Existem duas modalidades de transplante: o doador cadáver e o doador vivo. Para que ocorra a doação de órgão por um doador cadáver é preciso que a morte encefálica seja comprovada por testes clínicos. A Morte encefálica é definida como “morte baseada na ausência de todas as funções neurológicas”, ou seja, é permanente e irreversível. Após diagnosticado com morte encefálica a pessoa não tem como mais “reviver” e assim, todos os outros órgãos ainda funcionam, possibilitando a doação. Lembrando que essa doação só ocorrerá mediante autorização da família, por isso comunique seu desejo de ser doador.
Para o doador vivo, basta estar em boas condições de saúde, ser habilitado para a doação após uma avaliação médica minuciosa e ter a liberação judicial necessária.
4) Quem recebe um órgão, pode futuramente, ser um doador?
Um órgão transplantado não pode ser futuramente usado em outra pessoa após a morte encefálica, entretanto os outros órgãos, se em bom funcionamento, podem ser utilizados após uma avaliação criteriosa da equipe de transplante.
5) Quem já foi doador de órgão, pode doar novamente?
Para os doadores vivos (parte do fígado, um rim e um lado pulmão e parte do intestino) não há possibilidade de ser novamente doador, uma vez que tal procedimento acarretaria grave risco às condições de saúde e afetaria as aptidões físicas do doador, desta forma, perde o intuito básico da doação intervivos: doar sem acarretar problemas de saúde e atividades funcionais para os doadores.
6) Existe limite de idade para ser doador ou receptor?
Para os doadores cadáveres não há limite de idade, entretanto sabemos que quanto maior a idade do doador, maior a probabilidade de doenças associadas e, consequentemente, piores serão as condições dos órgãos doados. No caso dos doadores intervivos, idealmente os candidatos devem ter maioridade legal e não ter comorbidades. As cirurgias dos transplantes intervivos de órgão são de grande porte, desta forma, o doador deve apresentar boa saúde e, preferencialmente, ser jovem com riscos anestésicos e cirúrgicos controlados.
Para os receptores, a idade mínima depende de qual órgão é necessário transplantar, e isso é definido em suas particularidades por cada equipe. Entretanto, tão importante quanto a idade é o peso do receptor, principalmente nos transplantes pediátricos. Em relação a idade máxima, deve ser ponderada as condições clínicas e os riscos operatórios para a definição do transplante.
7) A recusa familiar para a doação de órgão ainda é muito significativa no Brasil?
Sim, infelizmente. A falta de conhecimento associado a veiculação de informações erradas sobre o processo de doação, principalmente nos doadores cadáveres, afeta muito a oferta de órgão. No Brasil não há uma campanha maciça e efetiva de conscientização para a doação tanto para população geral quanto para os médicos intensivistas que cuidam dos pacientes em morte encefálica. Sem dúvida nenhuma, o paciente em morte encefálica deve ser muito bem cuidado nas UTIs pois ele pode salvar a vida de outras pessoas.
Dr. Guilherme Paganoti é formado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora com Residência Médica em Cirurgia Geral, Cirurgia Pediátrica e Transplante Hepático Pediátrico pelo Hospital das Clínicas de Universidade de São Paulo. Atualmente, atua como preceptor da Residência Médica de Cirurgia Pediátrica do Instituto da Criança do Hospital da Clínicas FMUSP-SP e desenvolve projeto de doutorado em Transplante Intervivos de Intestino.